Mensagens do Provedor
A NOSSA REALIDADE FACE À CRISE
Caros Amigos/as
Dentro da experiência adquirida, considero que a realidade social e as práticas sociais que a
suportam, apesar da sua universalidade, divergem de acordo com a geografia dos lugares, o tipo
de culturas e os hábitos adquiridos.
Sines é o Concelho mais pequeno do Litoral Alentejano, com cerca de 15 000 habitantes. A sua
localização é junto ao mar e, por razões sobejamente conhecidas, a sua população foi gradualmente
adquirindo características mais cosmopolitas. Na década de 60, os proprietários detentores de algum
património rural foram expropriados, empobrecendo até ao desespero, aqueles que desse rendimento viviam.
Pelas suas águas profundas, nasceu um porto marítimo para barcos de grande porte, com escalas
internacionais, resultando daí a vinda de novas gentes, e consequentemente o aumento populacional e
de postos de trabalho. A par desta evolução, aconteceu também a formação e aprendizagem profissional
de muitos Sineenses, assistindo-se a uma analogia interessante: Sines albergou novas gentes e, ao mesmo
tempo, verificou-se a emigração de muitos Sineenses.
Com estas transformações, Sines perdeu grande parte das suas raízes e identidade e, simultaneamente, a coesão e solidariedade sociais.
Neste contexto, a área social e humana só têm expressão quando a necessidade bate directamente à porta de cada um.
As próprias empresas investem apenas em actividades e eventos de grande visibilidade e mediatismo,
esquecendo-se desta área, quando somos nós, os actores sociais, que recolhemos a maioria das pessoas
que nestes últimos 40 anos deram o seu grande contributo para o desenvolvimento da região e manutenção
da qualidade de vida dos seus quadros empresariais.
As pessoas que recorrem ao Lar são pessoas já muito dependentes, e destas, cerca de 85% com demência
e outras patologias graves; nos casos de demência, passámos nestes últimos 3 anos de cerca de 28 % para 47%.
Ora, este tipo de utentes exige uma maior atenção e cuidados mais assíduos, bem como equipamentos adequados e pessoal mais especializado.
Da parte das famílias, também sentimos que está em crescendo o aumento do stress, não só pelas dificuldades
que as medidas de austeridade estão a provocar, como pelo desgaste do tempo despendido a cuidar dos seus
familiares, repercutindo-se depois, em muitos casos, no desequilíbrio psicológico que se traduz na forma
como lidam com os funcionários e situações nas horas de visita.
Como tal, procuramos colmatar estas problemáticas com mais formação profissional, melhoria das condições
físicas dos estabelecimentos e ajustamento das condições gerais aos níveis das exigências legais e normas instituídas.
Mas com as medidas de austeridade em curso no país, estamos a sentir o efeito dos cortes por parte da
Segurança Social e a diminuição dos recursos financeiros das famílias, que se reflectem tanto na altura
das admissões, como depois no cumprimento das responsabilidades assumidas.
No nosso caso, como dispomos de múltiplas valências, as situações são bem mais complexas, pois as
respostas são mais numerosas, diversificadas e exigentes.
E como os comportamentos e hábitos humanos vão evoluindo em todas as suas vertentes, não podem estas
Instituições permanecer estáticas e ficar aquém das respostas e necessidades com que diariamente se vão
deparando. Terão obrigatoriamente, para que acompanhem esta evolução natural da vida, de se irem reestruturando,
adaptando aos novos paradigmas e investindo sempre que as parcas posses o permitam.
A palavra solidariedade assume, neste contexto, um carácter de urgência, uma junção eficaz de sinergias, uma
responsabilidade acrescida para todos os parceiros, uma vontade política de encontrar soluções e um compromisso colectivo de cidadania.
Um grande Bem-haja para todos.
O Provedor
Luís Venturinha de Vilhena